EM BUSCA DA "CURA INTERIOR"!
- 12 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Texto originalmente postado no dia: 27/07/2011 e readaptado em 03/02/2019.
Nele resumi uma de minhas consultas no Hospital das Clínicas com a Doutora Maria Bernadete Resende, neurologista que me atende há 16 anos e que hoje conta com uma ótima equipe, com profissionais de diversas áreas. Neste texto eu também fiz uma breve reflexão à respeito de curas e milagres, levando em consideração algumas valiosas lições que a vida me ensinou:

Após quatro meses, ontem fui para mais uma de minhas consultas no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Tive de ficar, aproximadamente, quatro horas “encarcerado” dentro de um hospital, com crianças impacientes por não aguentarem mais esperar para serem atendidas, enquanto alguns pais se seguravam para não perderem a paciência. Onde era fácil ver pessoas de outras cidades, quiçá outros estados (raras vezes de outros países, acreditem), lutando contra o sono, devido às longas horas de viagem.
Lá pude ver vários pacientes com a minha mesma deficiência (a Distrofia Muscular de Duchenne), nos mais diversos “quadros”: crianças caminhando com dificuldade, apenas começando a enfrentar a mesma batalha que eu comecei há cerca de doze anos, enquanto que a maioria já está na cadeira de rodas devido a idade (em torno dos nove anos já começam a utilizá-la), alguns, inclusive, seriamente debilitados. E todos esperando da mesma pessoa uma possível solução: Doutora Maria Bernadete, a mesma que me acompanha, possivelmente, desde os dez anos de idade. Ela que é uma esperança para toda essa gente.
As visitas ao hospital são cansativas, mas valem o preço. Lá os fisioterapeutas e a própria doutora avaliam nossa força física e pulmonar, além do fato de tirarmos eventuais dúvidas.

Ao chegar em casa, pensei naquelas crianças e seus pais, principalmente nos recém
chegados naquela situação, no quanto querem se ver livres daquilo tudo, no quanto os pais querem ver seus filhos correndo com as outras crianças. Enfim, no quanto esperam uma possível cura. Identifico-me com eles, também já pensei assim, achava que um dia tudo seria resolvido com apenas uma injeção: pura ilusão de criança.
Mas o tempo passou, e aquela experiência toda que adquiri com as constantes desilusões só serviu para me fortalecer, me mostrar outros caminhos, perceber que a tal cura não cairá do céu como em um “passe de mágica”. Milagres instantâneos só acontecem em filmes.
Cometi o mesmo erro que muitas pessoas cometem: achar que tudo tem que ser resolvido “na hora”.
É difícil manter a calma quando estamos passando por adversidades, tranquilizar-se quando as esperanças parecem ter desaparecido. Sei que é complicado, sou humano. Mas será que é justo cobrar Deus diariamente, como se Ele não soubesse o que faz? Ou decidirmos nos revoltarmos contra Ele quando não conseguimos o que queremos?
Penso comigo que não sou o único que tem problemas, e que se Deus não está “fabricando meu milagre” é porque está cuidando de outro alguém que necessita mais d’Ele do que eu neste momento. E se olharmos à nossa volta, veremos pessoas passando por situações bem piores do que as nossas, esperando pacientemente sua vez chegar. Tentem imaginar quantas pessoas, famílias, povos, comunidades, cidades, estados, países, enfim... quantos clamam por Seu nome.

Enquanto não somos atendidos pelo “médico dos médicos” devemos tentar resolver o que podemos sozinhos, buscar nossas curas e milagres diariamente.
Busco os meus a cada dia que passa, através de cada consulta, de cada sessão de fisioterapia, da cada passo de minhas diárias caminhadas, sempre mantendo (ou pelo menos tentando manter) minha satisfação e o bom humor em cada detalhe, cada pequena vitória. Procurando tirar algum aprendizado das derrotas e principalmente tendo calma para vencer no amanhã, além de manter a fé de que o dia seguinte será melhor que o anterior.
Falar pode até parecer fácil, eu, assim como todo o mundo, também tenho dias complicados, mas só cabe a mim tomar a decisão entre deixar o primeiro empecilho do dia estragar o resto dele, ou dar uma boa risada e seguir em frente.
Um dia desses, assistindo televisão (não me recordo os nomes do programa e da pessoa), vi um homem usando próteses em ambas as pernas, pois estas lhe haviam sido amputadas até os joelhos, ouvi-o dizer (não necessariamente com estas palavras) que temos de “nos preocupar com o nosso interior, pois não podemos melhorá-lo com dinheiro, enquanto que o nosso exterior podemos, ao menos, tentar amenizar através dele, seja comprando próteses ou até mesmo cadeiras de rodas.
Tentemos pensar assim também, cuidemo-nos nós mesmos, preocupemo-nos com nosso interior enquanto nossa cura não chega, só assim estaremos prontos para recebê-la quando ela vier, Deus nos observará de longe e auxiliará quando fraquejarmos. No mais procuremos nossa “cura interior”.
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